quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Praça do Carmo


 O céu está cinza e as nuvens pesadas, mas a chuva que se anuncia não cai. Os bancos de madeira ficam espalhados nessa praça; os pombos, comuns como em qualquer lugar, se agrupam na grama verde e ignoram as pessoas sem rostos. Os holofotes foram acesos, mas não há nada para iluminar, a não ser o pensamento que se esvai.
 Eu estou sentado sem saber exatamente o que estou sentindo: além do vazio corriqueiro, é o abandono que me domina e faz a angústia saltar a boca, esse eterno azedume que trago comigo. Sou incapaz de mover meus lábios e cínico demais para ficar perplexo. Somente acompanho esse deslizar lento dos fatos com os olhos pesados e míopes.
Faz frio, mas não trouxe casaco.
Às vezes é preciso senti-lo além dos sentidos, permitir que as sensações extrapolem o compreendido; o movimento das árvores com o vento é o mesmo ao que me atento.

Às vezes é preciso estar perdido para retornar a si mesmo.

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