quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Laranja

Das marcas que setembro me deixa,
mantenho algumas debaixo da minha camiseta
ou em versos deixados em papéis amassados
dentro de alguma gaveta.
O que setembro me traz todas as vezes
é o "e se"
que se propaga no infinito das possibilidades,
das coisas que não me saem da cabeça.

Fiquei porque odeio partidas,
mas eu mesmo já parti de mim há muito tempo;
não sei por que fiquei,
mas ainda tenho a poesia,
o céu acima
e alguns lamentos
que pretendo pichar nas paredes da casa
enquanto observo o silêncio
suspenso na luminária da sala,
a luz que eu mesmo irradiei sem jamais me iluminar.

Que ilumine os dias,
mesmo aqueles em que a esperança não nos alcança;

que setembro acabe,
e que meu amarelo se torne laranja.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Sessão

Olhe para mim e escute a minha queixa,
ouça cada palavra
e encaixe-as em nosso quebra-cabeça;
enxergue de fora da caixa
aquilo que hoje me atormenta
e diga as palavras corretas para me manter em equilíbrio.
Dê conta das sombras atrás da minha porta
e do meu desejo venoso de me juntar a elas
num sonho que conto e procuro sentido para que eu possa voltar a mim
mesmo sem aquela necessidade urgente de me reconhecer em gravuras rústicas
ou poemas escritos nas paredes.

Então meu coração se apequena
e minha alma cabe dentro de um frasco
onde se aloja e permite o tempo escorrer lentamente
com lágrimas ácidas.

Gostaria que elas me alagassem, e preenchessem alguma ausência...


Eu sinto isso com frequência.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Amarelo


Setembro chegou amarelo
para falar da melancolia que reside em silêncio
entre sorrisos cinzas e desesperos noturnos,
em ideações muitas vezes convidativas.

Ela age na surdina
e provoca as sensações dolorosas de um tormento
que nunca termina;
não é pelo sofrimento ou por todo dano que me causa,
mas sim pela certeza que me dá de que não posso fazer nada,
pela certeza de que não há uma saída,
pois passam as horas e os dias,
passam as pessoas que não olham,
elas estão sempre entretidas:
ah, como tudo passa e ninguém fica!

É triste, mas é lindo porque a escolha é minha
e a consequência se dará num sopro de vida.
É lindo e triste como uma despedida,
mas não há ninguém.